domingo, 7 de novembro de 2010

DO IRMÃO CÉSAR CHARONE NETO, PARA GUTINHO!


Nada mais triste do que ter que falar de alguém que amamos por razão de sua falta.
O meu irmão não está e não estará ausente nas vidas daqueles que tiveram o privilégio de compartilhar sua alegria, sua inteligência e seus múltimos talentos. Mas, infelizmente, não veremos mais o nosso Guto encarnado neste plano de matéria e imperfeição. Plano, aliás, que ele dominou com rara maestria; transformando tinta e papel em possibilidades maravilhosas, argamassa e tijolo em obras de arte, habitações em sonhos vivos e realizados.
Sua presença no plano material reverbera além dos níveis, ângulos, fundações e medidas que ele criativamente planejava, e se estende até a amizade, o carinho e o respeito daqueles a quem conquistou, simplesmente por ser ele mesmo.
Quando olharem para aquela varanda sofisticada, aquele baldrame improvável, aquele painel de material inesperado, verão neles a presença do artista.
O Guto foi um homem rico.
Enquanto que a fortuna material e as riquezas da terra de nada servem ao homem solitário, Augusto teve amigos em profusão. Respeitava-os pelo que eram, admirava-os pelas diferenças, não esperava deles mais que o afeto sincero e amava-os incondicionalmente e sem julgamentos. Talvez por isso tenha sido assim, também amado.
Tamanha fortuna é para poucos.
Meu irmão foi um homem livre, muito mais livre que a maioria de nós.. viveu como quis; viajou para onde quis; trabalhou com arte e afinco naquilo que escolheu para servir à subsistência e viveu intensamente o presente. Com respeito, ética e elegância.
Se nos foi arrancado assim tão repentinamente, que nos fique o conforto de ele viveu bem o tempo lhe coube.
O tempo que devora a tudo e a todos, transformará a dor da perda em saudade e a saudade em pequenas ilhas de lembranças, cada vez mais remotas, cada vez mais distante.
Por sorte nossos corações e mentes, os verdadeiros, os verdadeiros continentes da alma, de vez em quando vão lembrar daquelas palmas rápidas que o Guto aplaudia para sim mesmo quando estava alegre; de sua culinária espetacular, de seu sorriso iluminado; do anfitriã sofisticado que sentia prazer em receber amigos e parentes com uma curiosa combinação de informalidade e realeza; e da maneira como sempre procurava ver o lado positivo de todas as coisas. Sempre com elegância.
Suas músicas dançantes, sua risada repentina e sua eventual rabugice também ficarão em muito de nós.
Meu irmão era uma pessoa ímpar que a natureza me deu oportunidade de conviver e aprender. Não fiquei ao seu lado o tempo justo, e nem lhe disse tudo o que deveria. Mas entre nós nada ficou pendente. Sou feliz por isso.
Meu irmão foi um filho provedor. Como alguém disse no momento da dor maior, ele foi para minha mãe pai e filho.
Ela, mulher forte, sobreviverá à perda sabendo o quanto era amada, e o quanto ele gostaria de lhe ver feliz e provida.
A morte, meus amigos, é a maior bússola da vida. È com ela que deveríamos direcionar o valor das coisas que realmente têm valor.
Então, aproveito este momento tão difícil para pedir-lhes que olhem para si e para os seus, que percebam o milagre espantoso e belo que é a vida, e que saibam aproveitar com sabedoria a alegria todos os momentos que a existência nos concede.
Fiquemos, pois, com as palavras de um velho e alegre sábio romano:
NINGUEM PODE FUGIR AO AMOR E À MORTE.
                                                                                     CÉSAR CHARONE NETO

2 comentários:

  1. O que o César diz é bem verdade. Eu sou amigo dos dois irmãos desde a infância, da época em que os dois estudaram no Colégio Moderno. Eu fui colega de turma do Augusto. Sempre foi um grande amigo, realmente cheio de talentos. Estudamos juntos, nos divertimos juntos e também sofremos juntos. Hoje estou chocado por saber que ele não se encontra mais aqui. Mas certemente de nossos corações ele não vai embora.
    César, que Deus dê forças a ti e a tua família para superar esta perda.
    Se leres este texto, escreve para mim. Morar em outra cidade me fez perder contato com vocês.

    Fernando Muller
    fernando.muller@gmail.com

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  2. Confeço que fiquei muito abalada com que li aqui,pois não sabia que seu irmão tinha retornado ao mundo espiritual.pelo menos foi o q eu compreendi aqui com tudo q vc escreveu.será possivel vc entrar em contato comigo? katiaamintas@hotmail.com Um abraço

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